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Luís Virtual

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13 de Abril, 2016

O IMPULSO QUE NOS MOVE

Luís Martins
Motivação é fundamental para conquistar os objetivos. Saiba como vencer o desânimo e retomar o entusiasmo


Rotina, desapontamento, frustração, tempo escasso, cansaço. São tantos os obstáculos do cotidiano que tem dias que é preciso lutar com força para sair da cama. Não ter vontade de nada, vez por outra, é até comum e não há nenhuma gravidade nisso, desde que a partir do momento que você levante, consiga recobrar o desejo de fazer a diferença.

O problema é que tem se tornado cada vez mais frequente encontrar gente sem entusiasmo para seguir em frente. Preste atenção às pessoas ao seu redor, a partir do momento em que sai de casa até o fim da sua noite. Quantas delas não parecem se arrastar, sem energia para executar suas funções?

Do porteiro do prédio que mal abre a boca para responder ao seu bom dia até o atendente da padaria, que serve o café de forma mecânica e cara fechada, passando por aquele colega de trabalho que é o desânimo em pessoa, parece que lhes falta combustível.

Tudo bem que não é fácil ter de enfrentar situações de adversidade, ouvir muitos ‘não’, lidar com a falta de educação e de humor de alguns, ter de correr sempre contra o relógio e ver-se muitas vezes sem tempo para momentos de relaxamento e lazer. Só que, convenhamos, encarar tudo isso sem motivação é muito mais complicado.

“Vejo que, hoje, boa parte das pessoas está bastante desmotivada e praticamente leva a vida como uma obrigação, sem curtir, sem desfrutar do que vive, quando na verdade o prazer e a motivação têm de andar lado a lado”, constata o médico-psiquiatra, escritor e palestrante Roberto Shinyashiki.

Mas, afinal, o que é de fato essa tal motivação que tanta gente fala, mas poucos conseguem encontrá-la? O termo em si vem do latim moveres, que significa mover. Em outras palavras, é uma espécie de impulso que nos leva adiante.

ALGO A MAIS


A primeira motivação do ser humano é a de sobrevivência: respirar, comer, dormir. Em seguida, vem a necessidade de segurança, estabilidade e proteção. Acima, a socialização, a afeição e as amizades, seguidas de estima, amor próprio, respeito, autonomia. Por último, no topo da pirâmide, o desejo de autorrealização, crescimento pessoal, satisfação – e é aí que a coisa pega.

A satisfação das necessidades ou a motivação varia de acordo com cada indivíduo e o momento em que ele está vivendo. Não existe uma regra ou uma ordem estabelecida e, sim, a vontade ou a importância em realizá-las. “A falta de impulso pode estar baseada na deficiência de alguma necessidade, na ausência dessa força, na falta de sentido à vida ou na ânsia de se obter resultados imediatos, o que leva a um descontentamento, a uma angústia e a um vazio interior”, analisa a coaching Selma Amaro.

A raiz do problema, portanto, como quase sempre, está intrínseca, vem de dentro de nós. Segundo o palestrante e escritor Sérgio Savian, a falta de motivação está relacionada ao que cada um acredita e à energia que colocamos para que os sonhos se realizem.

Acontece, porém, que os antigos sonhos vêm perdendo o sentido. Namorar, casar, ter filhos, comprar a casa própria, viajar, já não têm o mesmo impacto que tinham décadas atrás. “Perdeu-se a capacidade de sentir prazer com as coisas simples da vida. Com tantos estímulos, tantas ofertas e muita tecnologia, as pessoas foram se anestesiando. Vivemos imersos em um mundo de muitas informações, sem tempo para saborear cada coisa que nos acontece”, avalia Savian.

Mais do que ter as necessidades satisfeitas, é preciso dar sentido a elas. O verdadeiro entusiasmo é aquele que parte do nosso íntimo. É o que leva alguém a escalar uma montanha à custa de muito esforço, quando poderia confortavelmente chegar ao topo de helicóptero. É aquilo que acende seu fogo interno, que lhe dá vontade de viver. Aquela atividade que você faria mesmo que não ganhasse dinheiro para isso.

“Qual é o sentido da sua vida? Qual é o seu sonho? O que te faz feliz? Se você não soube responder, talvez precise remover coisas que estão drenando sua energia. Situações mal resolvidas na vida causam desmotivação e até podem levar à depressão”, pondera Selma.

Para retomar o entusiasmo é preciso recuperar a alma, ser autêntico, entender as aspirações mais profundas de si mesmo e nortear a vida a partir destes parâmetros.

“Costumo recomendar cinco passos bastante simples para reencontrar o ânimo perdido: tenha uma razão, seja claro naquilo que deseja, tenha evidente o caminho para chegar onde você quer, aja e comemore suas vitórias. Com essa postura, você terá mais motivação para seguir na vida, conquistando seus objetivos e tendo muito mais razões para comemorar. E isso, sem dúvida alguma, vai aumentar o seu prazer de viver”, ensina Shinyashiki.

DINHEIRO NÃO É TUDO

O que acontece é que muita gente acaba relacionando a satisfação ao sucesso profissional e, consequentemente, a um salário mais alto. E isso é um risco bastante grande. Para Roberto Shinyashiki, se você ligar sua motivação apenas ao quanto ganha, é pouco provável que tenha bons resultados.



A coaching Selma Amaro concorda com o discurso do psiquiatra. “O salário é essencial para manter a vida, a saúde, a família, o conhecimento, a realização dos sonhos e a economia. Mas as pessoas também precisam se sentir importantes dentro do que fazem e enxergar a sua contribuição para um mundo melhor”, afirma.

Ou seja, para nos motivar, precisamos ter um propósito. Precisamos sentir que o trabalho que fazemos serve para algo mais do que simplesmente pagar as contas.

“Está mais do que provado por pesquisas que a motivação profissional está menos relacionada ao quanto se ganha e tem mais a ver com outros assuntos. O ambiente de trabalho, relações descomplicadas, a oportunidade de colocar em prática os seus talentos, o reconhecimento do que você faz, tudo isso tem se mostrado mais importante”, enfatiza o escritor Sérgio Savian.

A tese é compartilhada por Shinyashiki, que cita os bombeiros e os policiais como exemplo para justificar o que pensa. “Se motivação estivesse ligada apenas a salários, não teríamos hoje tantos heróis bombeiros dedicados a salvar vidas, nem tantos bons policiais que se arriscam pelo bem público.”

ATITUDE POSITIVA


Pensar positivo, acima de qualquer circunstância, é uma das formas de manter a empolgação em dia. Pessoas otimistas costumam ser mais felizes e ter atitude mais pró-ativa do que os negativistas. “Pensamentos negativos são sabotagens provenientes de crenças limitantes, que podem ter sua origem na família, na escola, na religião ou na sociedade. Geralmente, elas estão arquivadas no subconsciente como um dogma ou comportamento a ser seguido, freando nossa evolução”, explica Selma.

Para ela, essas crenças interferem em nossa maneira de encarar a vida, principalmente quando estamos em processo de mudança. “Escolher mudar significa quebrar padrões, sair da zona de conforto, e isso paralisa algumas pessoas. O medo de errar e a insegurança servem como desculpas para a falta de ação. Eles podem limitar o desenvolvimento de nossas capacidades e da nossa autoconfiança, aumentando a frustração e a insatisfação.”

Cultivar o pensamento positivo, ao contrário, nos dá coragem e energia para vencer obstáculos e alcançar metas. Porém, apenas manter o otimismo não é garantia nenhuma de êxito e satisfação. “Muita gente pensa que somente pensar positivo basta, mas na verdade isso é apenas o começo, é apenas parte do processo de gerar mudanças positivas na sua vida. Só com motivação e atitude é que esse processo se completa”, alerta Shinyashiki.

De nada adianta ter uma visão positiva sobre a vida se você não transforma esse otimismo em energia para se autossuperar, ultrapassar limites e temores. Por isso, é fundamental que você se conheça. “Autossuperar-se envolve vencer barreiras que foram construídas dentro de sua mente ao longo de toda a sua vida, desde a infância. Então, não é de se esperar que seja fácil vencer esses obstáculos. Mas não é impossível. Dá trabalho, mas você tem condições de chegar lá. É preciso acreditar nisso e trabalhar forte para a realização”